Zaqueu: O pequeno grande homem

Zaqueu: o odiado cobrador de impostos que, movido por uma incrível curiosidade, quer a todo custo ver Jesus.

Todos os episódios são narrados no Evangelho de Lucas, cronista atento ao essencial: Jesus encaminha-se para Jerusalém, atravessou a Samaria, contou parábolas que comoveram o coração de muitos, expulsou demônios e curou doentes, confundiu os fariseus que se escandalizavam por vê-lo fazer milagres aos sábado, já encontrou o jovem rico e lhe falou com todas as letras do perigo da riqueza que afasta do Reino de Deus. Seu caminho passa por Jericó, a mais antiga cidade do mundo. Quando atravessa a cidade, no centro de um esplêndido oásis rodeado por montanhas, a poucos quilômetros do Mar Morto, uma multidão enorme o cerca. Entre eles está Zaqueu.

Era um personagem famoso e famigerado, bem conhecido por todos, "chefe dos publicanos e rico", escreve Lucas. Rico: daqueles para os quais a porta do Reino dos céus parece por demais estreita. Os publicanos eram piores que os ricos, eram desprezados, quase impuros. Eram aqueles que tinham enriquecido recebendo os impostos para os romanos. O cobrador de impostos nunca foi muito amado, e muito menos popular, em nenhum país do mundo: ainda mais o publicano judeu, que representava uma dupla blasfêmia. Judeus que pediam dinheiro de outros judeus por conta do odiado império romano, esse que o Messias deveria derrubar, pelo menos na expectativa do povo. Um momento que parecia iminente visto o fervilhar de movimentos de independência e de espera messiânica no tempo de Jesus. Segundo a expectativa do povo, os primeiros a sofrerem as conseqüências da expulsão dos romanos pelo Messias deveriam ser os publicanos, aquela gentalha. Os freqüentes contatos com os pagãos os tornavam também pouco recomendáveis quase indignos de entrar no Templo. E ainda por cima, para tornarem-se ainda menos simpáticos, eles talvez embolsassem parte do dinheiro que arrecadavam.

A todo custo


Enfim, os publicanos eram o que de pior, de menos moral se podia encontrar. E Zaqueu era seu chefe. Lucas o descreve como "de pequena estatura". A multidão o rodeia facilmente e ninguém faz o favor de lhe abrir espaço, evidentemente. Zaqueu tinha um só dote, uma inexplicável curiosidade. Morria de vontade de ver Jesus, e talvez nem soubesse por quê. Tinha que vê-lo a qualquer custo, mesmo passando por ridículo. "Ele procurava ver quem era Jesus", escreve Lucas, "mas não conseguia". A cena descrita no Evangelho continua: Zaqueu tenta, se agita, mas não tem jeito. Corre então para passar à frente da multidão, sobe numa árvore, acomoda-se "num sicômoro", como Lucas descreve com precisão. Sicômoros como esse ainda existem em Jericó, altos, frondosos, cheio de galhos que começam já na parte de baixo: é fácil subir. Zaqueu sabia que Jesus tinha de passar por ali. O Evangelho não demora a descrever o que experimentou naquele momento: curiosidade, certamente, talvez um confuso sentimento de culpa pela vida não muito exemplar, quem sabe a intuição de que alguma coisa pudesse acontecer, algo realmente novo. Talvez. Quem sabe. Falava-se tanta coisa a respeito daquele nazareno. O Evangelho fica nos fatos. Jesus chega e logo levanta os olhos, vê o rico, o publicano, o impuro, o chefe da máfia, pendurado nos galhos. Uma cena talvez um pouco ridícula, um pouco patética, mas pode-se pensar que naquele momento bem poucos rissem. Deve ter havido, sim, uma certa comoção. Aquele homem pequenino era mau e pecador e tinha roubado muitos pobres. Os olhares se cruzam. O de Jesus, que a multidão acompanha com a respiração suspensa: "Que será que ele vai dizer agora…", um olhar que só os discípulos conheciam bem e que todas às vezes indicava que alguma coisa estava para acontecer, algo inesperado.

"Vou a tua casa"

E o olhar de Zaqueu. "Ele me viu, e agora?". O olhar da multidão: "Olha só onde ele foi se meter…, mas é claro que Jesus deve saber de quem se trata, que tipo de pessoa é esse cara no sicômoro".  "Podemos imaginar o momento em que Jesus passa sob aquela árvore onde, aninhado, está Zaqueu, o chefe da máfia de todo o nordeste de Jerusalém: de Jericó. Jesus pára e olha para ele: ‘Zaqueu’, diz seu nome. “Zaqueu”, desce depressa, vou a tua casa”. Não há possibilidade de uma ternura como essa entre nós; somos sórdidos, grosseiros, somos pedras em comparação com isto aqui: Zaqueu". Vale a pena ler e reler as palavras de Jesus, que Lucas transcreve fielmente, pois devem ter ficado impressas no coração dos apóstolos, palavras imprevistas para todos, para os discípulos, para a multidão, imaginem para Zaqueu: "Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa". E o que acontece então é surpreendente, até o cronista do Evangelho, desta vez, não pode deixar de relatar o tumulto de sentimentos que se desencadeiam: Zaqueu "desce depressa e recebe-o com alegria". Ele quase dá um pulo da árvore, enquanto a multidão se afasta e murmura: "Foi hospedar-se na casa de um pecador". Essa mesma multidão pouco antes estivera ao redor de Jesus quando ele restituiu a visão a um cego, e também então procurara calar aquele deficiente inoportuno que gritava. Mas isto era demais: esse publicano! Esse chefe da máfia! Esse pecador! Zaqueu, enquanto isso, devia estar ajoelhado, ou talvez tivesse caído ao descer da árvore, pois o Evangelho diz que "se levanta" e diz depressa a Jesus a primeira coisa que lhe vem à cabeça. E é uma coisa enorme para ele, que fizera do dinheiro, do engodo, da fraude o seu verdadeiro Deus: "Senhor, darei a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei a alguém, restituo-lhe o quádruplo". Era muito mais do que prescrevia a lei judaica e romana. E Jesus lhe responde, falando evidentemente também para a multidão: "Hoje a salvação entrou nesta casa, pois ele também é um filho de Abraão; o filho do Homem veio encontrar e salvar o que estava perdido".

Por Giancarlo Giojelli

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Uma resposta para Zaqueu: O pequeno grande homem

  1. lucius disse:

    O homem Jesus quando encontra com o pecador, que nem pode ser chamado de homem, é como a àgua caindo em terra seca, so a partir da umidade pode sofrer transformações, o homem so a partir da humildade pode ser recuperado.

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